Um grupo fortemente armado ataca uma agência bancária. Usa explosivos, faz reféns, bloqueia ruas com veículos incendiados e protagoniza um tiroteio durante a madrugada. As cenas que aterrorizaram os moradores de Criciúma (SC) nesta semana, e depois se repetiram em Cametá (PA) e Belford Roxo (RJ), não são inéditas no Brasil. Um caso como o do maior roubo da história de Santa Catarina chama a atenção por se tratar de um crime que ocorreu em uma cidade de médio porte, situada em uma região onde roubos com tamanho poder de fogo não são comuns. A migração desses crimes dos grandes centros para cidades menores parece ser uma realidade que já vem se consolidando há algum tempo, mas os especialistas consultados pelo Jornal da USP divergem no que diz respeito à capacidade das forças de segurança pública em preveni-los.
“Esse caso de Santa Catarina é de organização de facções criminosas a partir de São Paulo, não tenha dúvida”, diz o cientista político Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e coordenador da Rede Interamericana de Desenvolvimento e Profissionalização Policial. Ele lembra que a tradição do estado nessa modalidade de crime também foi vista no assalto ao Banco Central, em Fortaleza, em 2005. O crime, com características tão “cinematográficas” quanto o caso recente de Criciúma, chegou mesmo a virar um filme.
“O grande centro de propagação de organizações criminosas mais preparadas, mais capazes de coordenar esse tipo de roubo, está em São Paulo. Como foi naquele assalto monstruoso, em que o PCC invadiu uma transportadora de valores em Ciudad del Este e detonou tudo”, afirma Piquet, sobre o roubo ocorrido na cidade fronteiriça em 2017, em que foram levados cerca de US$ 40 milhões. Segundo o professor, a Polícia Federal brasileira foi chamada pelo Paraguai para ajudar nas investigações.
Vale lembrar que, antes da madrugada de terror em Criciúma, outros crimes semelhantes foram registrados neste ano em cidades do interior de São Paulo, como Botucatu e Ourinhos. Uma semana antes do crime em Santa Catarina, no dia 24 de novembro, um grupo roubou uma agência do Banco do Brasil e outra da Caixa Econômica Federal em Araraquara. Os suspeitos fugiram deixando explosivos para trás e levaram R$ 2,5 milhões em dinheiro e um valor equivalente em joias. Dias depois, em 30 de novembro, criminosos usaram explosivos em caixas eletrônicos de uma agência do Bradesco no município de Gavião Peixoto, próximo a Araraquara.
“Para cometer uma ação como essa, você precisa de muita organização, muito planejamento. O uso de armas privativo das Forças Armadas e um arsenal desse volume não ter sido rastreado é realmente muito preocupante”, diz a socióloga Jacqueline Sinhoretto, professora da universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenadora do Grupo de Estudo sobre Violência e Gestão de Conflitos (Gevac). “Indica falhas ou até mesmo cooperação por parte de agentes das forças que deveriam estar fazendo o seu trabalho. A gente não pode afirmar que exista isso, mas essa hipótese não pode ser descartada nas investigações”, completa.
Jacqueline avalia que a flexibilização do controle de armas e munições defendida e colocada em prática pelo governo do presidente Jair Bolsonaro traz como efeito colateral a maior disponibilidade de armamentos que podem, eventualmente, cair nas mãos de criminosos.
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