Vacina chinesa foi uma aposta do governo de São Paulo, por meio do Instituto Butantan
No domingo (17/1), quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou dois imunizantes em caráter emergencial e o governo de São Paulo deu início à vacinação, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, e Doria trocaram acusações sobre o crédito da CoronaVac, desenvolvida por cientistas do Instituto Butantan com a empresa chinesa Sinovac.
Nas suas entrevistas coletivas de domingo, as autoridades abordaram dois aspectos distintos sobre o financiamento das vacinas. Em primeiro lugar, de onde veio o dinheiro para financiar a pesquisa que levou à CoronaVac. Em segundo, existe a questão de quem vai comprar a vacina — recompensando o esforço pela criação do imunizante.
Sobre a primeira questão, a vacina foi desenvolvida com recursos da empresa chinesa Sinovac e do Instituto Butantan — cujo orçamento está ligado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
O governo federal investiu seus recursos para auxiliar nas fases de teste de outro imunizante, o da Oxford-AstraZeneca, por intermédio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde. A Fiocruz também será responsável por produzir a vacina de Oxford no Brasil.
Governo e a intenção de investimentos
Existe a perspectiva de um investimento de R$ 63,2 milhões a ser feito pelo Ministério da Saúde no Butantan. Um convênio foi assinado entre as duas partes e, em nota à BBC News Brasil, o ministério da Saúde falou que os recursos estão empenhados para “aquisição dos equipamentos para o centro de produção multipropósito de vacinas”.
Esse convênio, no entanto, foi assinado apenas no dia 24 de dezembro do ano passado, quando a CoronaVac já estava em estado avançado de desenvolvimento.
Na sua coletiva de domingo, o ministro Pazuello anunciou esse investimento como se ele já tivesse sido feito.
“Fomos nós que fizemos o desenvolvimento do parque fabril do Butantan para fazer a vacina. Fizemos um contrato de convênio de mais R$ 80 milhões. Isso em outubro. Você sabia disso? Pois é”, disse o ministro na entrevista coletiva.
Houve, de fato, reuniões entre o Ministério da Saúde e a Fundação Butantan no dia 20 de outubro para a negociação do convênio. E na época Pazuello chegou a anunciar o investimento. Pazuello também anunciou a intenção de comprar 46 milhões de doses da CoronaVac.
Pazuello desautorizado por Bolsonaro
Mas o ministro foi desautorizado horas depois pelo presidente Jair Bolsonaro. A notícia sobre o anúncio foi retirada do site do governo.
Em seguida, o secretário-executivo de Saúde, Elcio Franco, convocou outra coletiva para ler uma nota de esclarecimento do Ministério da Saúde na qual tratava o investimento apenas como “intenção”.
“Não houve qualquer compromisso com o governo do Estado de São Paulo ou o seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra covid-19. Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan em caráter vinculante por se tratar de um grande parceiro do ministério da Saúde na produção de vacinas para o Programa Nacional de Imunização (PNI).” Diz o Ministério.
O vídeo com essa nota de esclarecimento foi publicado por Jair Bolsonaro no Facebook, com o presidente destacando no título uma frase do pronunciamento: “não há intenção de comprar a vacina chinesa”.
Na sua fala de domingo, o governador João Doria fala que “não há um centavo, até agora, do governo federal, para a vacina — nem para o estudo, nem para a compra, nem para a pesquisa”.
A informação de que o governo federal ainda não pagou pelas vacinas coincide com o que disse o Ministério da Saúde em nota à BBC News Brasil. No entanto, o governador de São Paulo omitiu na sua declaração que o governo federal é cliente das doses produzidas pelo Instituto Butantan.
Fora do âmbito politizado do primeiro escalão, as entidades de pesquisa e desenvolvimento de vacinas mantém boas relações.