Flamengo vem com tudo pra cima do Ceará em dia de festa no Maraca

Campeões da América fizeram treino único antes de jogo com Ceará (Foto: Mauricio Val/FVIMAGEM)

Os 57 mil ingressos já vendidos para a partida entre Flamengo e Ceará, nesta quarta-feira, às 21h30, no Maracanã indicam um clima de festa no reencontro do time carioca com a torcida, após os títulos da Libertadores e do Brasileirão. Os jogadores e o técnico Jorge Jesus, no entanto, querem deixar a euforia restrita às arquibancadas. De olho no Mundial de clubes, no próximo mês, o Rubro-Negro quer fazer das quatro partidas que restam no torneio nacional um preparativo para a disputa do torneio internacional, em Doha no Qatar.

A conquista antecipada do Campeonato Brasileiro tira o peso da partida, mas não diminuiu a motivação do elenco de vencer e dar alegria para a torcida. Em coletiva no Ninho do Urubu, na véspera do confronto contra o Vozão, o zagueiro Pablo Marí garantiu que a equipe vai em busca dos três pontos.

– Temos muita vontade de seguir dando vitórias para nossos torcedores. Temos um grupo muito profissional. Estamos muito contentes pelos resultados do final de semana, mas somos muito profissionais, demonstramos isso a cada rodada. Evidentemente, quem entrar em campo no Maracanã vai ser para buscar os três pontos – disse o espanhol.

Além de não poder contar com Gabigol, suspenso pela expulsão contra o Grêmio, o técnico Jorge Jesus deve optar por poupar boa parte da equipe titular, em razão do desgaste com a disputa do título, viagens e comemorações. No treinamento único antes da partida comandado pelo português, nesta terça, apenas Rodrigo Caio e Everton Ribeiro foram mantidos na time principal.

Após o encerramento da partida válida pela 35ª rodada, o elenco rubro-negro receberá o troféu do Brasileirão. Com o caneco nacional em mãos, os jogadores poderão dar a dupla volta olímpica diante de um Maracanã lotado e ávido por exaltar os heróis.

Fonte: Lancenet

Negros não têm vez na gestão de clubes das séries A e B do Brasileiro

 

Presidente da Ponte Preta é o unico negro a presidir um time nas series A e B do futebol brasileiro 

Por Sebastião Arcanjo e José Moraes Neto*

O futebol é uma das expressões culturais mais intensas do planeta  e estamos vivenciando  um  aumento exponencial nos casos de racismo no esporte mais popular do mundo. Do continente europeu passando pela América do Sul e por vários pontos do planeta ,  os caminhos da intolerância se espalharam e o racismo tornou-se uma questão mais importante que o próprio jogo de futebol, onde a derrota não é mais levar um gol : é transformar o esporte em um espelho de uma parte da sociedade que insiste em usar o esporte como um meio de expor a intolerância e o racismo.

Neste contexto, defender e mostrar a democracia racial no esporte é cada vez mais crucial. A Associação Atlética Ponte Preta foi fundada em 11 de Agosto de 1900,  no último ano do século XIX , em um momento em que o mundo assistia a divulgação de inúmeras Teorias Raciais que defendiam a superioridade branca , base do Imperialismo do século XIX e do nazifascismo da primeira metade do século XX.

O próprio bairro da Ponte Preta, em Campinas, formou-se a partir da chegada da ferrovia em 1872 e com ela a primeira bola de futebol foi apresentada aos meninos pelo ferroviário escocês Thomaz Scott. A “pelota” transformou a vida e o sentimento dos jovens do bairro , antigos lavradores , pequenos chacareiros , imigrantes , ferroviários brancos, mestiços e negros, fiscais de linha, caldeireiros , operadores de máquina uniram-se na fundação de um time de futebol e escolheram a data de 11 de agosto, símbolo da chegada da ferrovia em Campinas.

E Miguel do Carmo, o jovem fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, pisou em campo pela primeira vez em 1900 e transformou-se no primeiro negro do futebol brasileiro. Já no segundo time, de 1908 até 1917, Amparense, Moraes e Benedito Aranha – três jogadores negros – levantaram a taça de campeão da Liga Operária de Futebol em 1912.

O time Ponte Preta nasceu em um bairro popular e operário, recebeu influência do anarquismo e seus ideais de liberdade e tolerância , e aqueles meninos e jovens fundadores resolveram que o ser humano é maior que a intolerância e o racismo, que a dignidade entra em campo e que na ponta da chuteira o futebol pode representar liberdade e igualdade.

De fato, a recente historiografia sobre o futebol brasileiro nos mostra que o futebol nesse país nasceu múltiplo , a apropriação do futebol pela elite branca paulistana teve que conviver com a linha férreas e os bairros operários.

O jornalista Mário Filho revelou para a memória do futebol no país, a importância do Vasco da Gama e seus jogadores negros na conquista do titulo metropolitano da capital federal em 1923, mas já antes dessa data, em Bangu e em outros bairros operários do Rio de Janeiro ,  jogadores negros pisaram nos gramados na luta contra o racismo. E, antes deles, Campinas já era pioneira com a Ponte Preta.

O dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro,  nos remete a reflexão, resistência, luta , liberdade, valorização de pluralidade cultural, tolerância, resgate, memória, história. Das feridas dos canaviais e cafezais às feridas da alma na atualidade, com a certeza do respeito à humanidade, devemos negar com toda autoridade possível  o racismo , o preconceito e a intolerância.

Isto posto, a história é uma construção social. A Ponte Preta é Macaca, o racismo e o preconceito contra os torcedores do clube na década de trinta do século passado foram acolhidos pela torcida como um troféu da resistência, subvertidos em símbolo da luta pela pluralidade. Uma luta que deve ser renovada a cada dia por todos, seja nos campos de futebol ou fora deles.

Se o fato de termos sido a última cidade do país a abolir a escravidão envergonha Campinas, por outro lado temos orgulho em ter a primeira democracia racial do Futebol  Brasileiro.  Da mesma forma, nos inspiramos em iniciativas recentes no futebol como a do Bahia e do Santos para manter os holofotes sobre o tema. Por fim, como aqueles meninos que ousaram fundar  a primeira democracia racial no esporte, nós ousamos sonhar que um mundo sem racismo também é  possível.

* Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, é presidente da Ponte Preta; José Moraes dos Santos Neto é professor e historiador